RELATO ECOMOTION 2012
A PROVA
Dia 13 de maio de 2012 às 6:30h foi dada a largada do Ecomotion 2012 (WWW.ECOMOTION.COM.BR). Um percurso curto de corrida de orientação serviu para dispersar as equipes não causando um tumulto muito grande para o início da canoagem. Começamos bem e não demoramos a entrar no rio para iniciarmos o trajeto de 54km , sendo os 14km iniciais de remanso com pequenas corredeiras . Após esses 14 km iniciava-se o tão temido (pelo menos para mim) trecho de grandes corredeiras que como já havia alertado a organização, iria exigir muita técnica por parte dos atletas para que acidentes sérios não corressem.
É claro que viramos ( Eu e João Bandeira, meu parceiro nesse
trajeto) algumas vezes ( 5 pelas minhas contas) mas em nenhuma das vezes passamos
por problemas sérios. No outro caiaque estavam Diogo e Glauco, que por
fatalidade teve seu remo preso numa pedra e com a velocidade da queda que
jogou-os rio abaixo, não teve como voltar para reaver esse equipamento. Seguimos assim até o final do trajeto,
fazendo revezamento de remos entre nós e terminamos os 54 km sem maiores
problemas na décima segunda colocação, num total de 40 equipes. Ficamos felizes
e motivados!Até por que estávamos somente 1hora atrás da primeira equipe que
era composta pelo Zé Pupo, o “mestre” da canoagem em corredeiras do Brasil.
Partimos para os 25 km de trekking com muita animação.Nos 10
km iniciais estávamos super bem, num ritmo forte e com a navegação
tranquila.até que começou a escurecer e tínhamos que achar uma trilha que se
iniciava no lado oposto do rio em que estávamos. Era uma trilha d e pouquíssima
visibilidade e com a ausência de luz, não conseguíamos achar. Várias equipes se
encontraram nesse ponto tentando em vão encontrar a tal entrada.
Nos separamos e fomos
tentar um caminho alternativo , o que nos custou muito caro pois nos
embrenhamos numa mata fechada, tivemos que “varar” muito mato e tardamos nosso
trajeto em mais de 10h!!!!
Mas tudo bem, isso acontece. Ainda temos muita prova pela
frente. Seguimos confiantes pros próximos 45 km de bike. Como havíamos
previsto, o trecho foi realizado com muita tranquilidade num excelente tempo!
Seguimos confiantes e demos início a mais um longo trecho de trekking (cerca de
35 km) . Começamos muito bem, encontramos o PC com facilidade e seguimos
firmes. Alguns quilômetros adiante uma triste constatação: estávamos perdidos
novamente!!! Dessa vez , com mais 3 equipes. Novamente um erro que nos custou
mais de 10h perdidos . A partir daqui, os pés já começaram a se deteriorar devido
a tantos km a mais subindo e descendo morro, sem água e comida suficientes pois
havíamos nos preparado para uma distância e um tempo bem menor. O psicológico
já começa a causar alguns conflitos mas
nada grave. Seguimos ainda confiantes para os 140 km de bike, que fizemos com
muito mais facilidade do que eu poderia imaginar. Fiquei radiante de alegria ao
constatar que após tanto tempo de prova percorrida, tantos km a mais de
caminhada dura e , principalmente após esses 140km de bike, meu corpo estava zerado.
Não sentia cansaço nem dores musculares porém, meus pés estavam com muitas
bolhas . Não me preocupei muito pois o próximo trecho era de 25 km de canoagem.
Assim, poderia dar um descanso maior para os pés e tentar alguns cuidados para
minimizar os estragos.
Passamos tranquilos pelo longo trecho de canoagem ,
realizado em 2h e 50 min.!!!! Ficamos muito felizes com esse desempenho!
Partimos agora para 45 km de trekking. Agora todo o cuidados
com os pés é pouco!
A DIFÍCIL DECISÃO
Infelizmente, como nos trecho anteriores, mais uma vez
ficamos perdidos por horas! Os pés pioraram bastante , o tornozelo do Glauco
que estava muito inchado, com torção e tendinite, começou a ficar muuuiiito
mais inchado. O trecho era considerado o mais difícil de toda a prova e como
estávamos em um lugar que parecia ser fácil de conseguir resgate, uma vez que
era um enorme estradão com rio e um povoado por perto, decidimos desistir de
continuar e chamar nossa equipe de apoio para nos buscar. Tiramos o lacre do
rádio e para nossa surpresa, não conseguimos contato com a organização. O que
fazer?
Estávamos no VÃO DE ALMAS , maior área quilombola do Brasil
,local onde habitam os Kalungas.
Paramos numa primeira casa e não conseguimos muita
informação pois o casal que lá habitava, era bem simples, tinha uma certa
dificuldade de se expressar e não tinha muitas informações para oferecer mas
nos disseram que às vezes , um caminhão passava para levá-los para Cavalcante ,
a cidade onde estava nossa equipe de apoio e uma boa estrutura do PC/AT da
organização do Ecomotion.
Seguimos adiante , atravessamos um rio e enquanto os meus 3
companheiros de equipe tentavam a comunicação com o rádio , eu resolvi dar uma
volta pelas imediações para ver se conseguia mais alguma informação.
O PODER DA INTENÇÃO
Aí começou a minha grande aventura no Vão de Almas!!!!!
Avistei uma casinha bem simples e fui me aproximando devagar. Pedi licença e
, imediatamente, me convidaram para entrar. Estavam Natalino, ( um homem de
cerca de 35 anos), sua mãe, sua mulher , e dois filhos pequenos na parte de
fora da casa, numa choupana , onde se localiza o fogão a lenha da família.
Estavam começando a almoçar.
Contei para eles o que havia acontecido comigo e com meus
companheiros de equipe e perguntei se eles sabiam de algum carro ou caminhão
que passasse por ali. Natalino imediatamente falou que o caminhão que passa por
ali para levá-los para Cavalcante com
certeza iria passar por volta das 15:00h , que custava R$ 25,00 por pessoa , que
ele nos levaria lá no “ponto” (uma estrada a alguns km dali) e que fazia
questão que eu e meus companheiros de equipe sentássemos para almoçar com
eles!!!
Quando eu voltei para a beira do rio , falei a seguinte
frase: - Olha, o carro(como os
kalungas se referem ao caminhão) vai
passar às 15:00h, custa R$ 25,00 p/pessoa e o pessoal da casa ali ainda está
convidando a gente pra almoçar! eles ficaram me olhando meio sem acreditar. Mas
a descrença durou apenas alguns segundos, afinal, alguma luz havia aparecido e
tínhamos que segui-la!
Com muito arroz e feijão no prato pois era a única coisa que
a família tinha para o almoço, mas que fizeram imensa questão em compartilhar
com a gente, ficamos reabastecidos. Mais dois filhos do casal chegaram da
escola, mais parentes, todos reunidos contando suas histórias e querendo saber
das nossas.
Não tardamos muito por ali pois tínhamos ainda uma caminhada
para chegar a estrada e pegar “o carro”. Como combinado, Natalino com toda a
sua boa vontade e seu jeito quieto e prestativo, nos conduziu até o local. Aproveitou
para passar pela escola aonde os filhos estudam e nos mostrar a precariedade.
Aproveitou para desabafar um pouco sobre as dificuldades que vivem por ali
tendo que pagar R$50,00 para ir e voltar de Cavalcante, cidade que dista 70 km
da comunidade e que , antes de terem “o carro” tinham que ir revezando , uns de burro , uns caminhando, muitas
vezes levando os filhos, se tivessem que
ir ao médico. O percurso é muito ruim com estradas de terra bem precárias ,
tendo que passar por dentro de rios, etc.
Como eu não podia deixar passar, meu lado revolucionário
falou mais alto e eu já deixei um recado para eles irem na Câmara de vereadores de Cavalcante,
procurar o vereador que segundo ele, todo período de eleição vai lá e bate de
casa em casa pedindo voto, e exigir as modificações prometidas.
Quando eu podia
imaginar uma situação dessas em pleno Ecomotion!
A ESPERA
Chegamos na estrada. Agora só nos resta esperar. Nossa pergunta: - O “carro “ passa às 15:00h?
Resposta de Natalino: Não é muito certo não, às vezes ele
nem passa, mas hoje vai passar sim. Espera que passa!!!rs
Ele nos disse que tinha 2 amigos que moravam naquela estrada
e perguntou perto de qual deles gostaríamos de esperar . Pedimos o mais perto,
claro! E ele nos deixou perto da casa de um senhor chamado Sr. João.
Ali ficamos! Dormimos, acordamos, ; choveu, parou de chover
e o carro???? Nada!!!
Até que aparece seu João montado em seu burro dizendo que ia
caçar. O Diogo resolveu, como quem não quer nada, arriscar a perguntar se por
ali era possível encontrar um telefone. Resposta do seu João: - Eu
tenho!!!!!! Mas não pega aqui não. Tem
que andar um pouco pra lá.... e apontou pro horizonte...rs
Eu , doida pra resolver a situação mandei logo: - tem como
eu montar nesse burro aí e ir com o senhor lá ligar?
Sr. João: - tem não mas eu monto um burro para e vc vai
comigo , cada um num burro!
Os caras ficaram um pouco preocupados mas era a nossa única
saída. Tínhamos voltado a “estaca zero”.
COMO CONSEGUI FALAR
NO CELULAR NO VÃO DE ALMAS
Lá fui eu com o número de telefone de um dos nossos 3 amigos
da equipe de apoio anotado num papel, atrás de seu João, fazendo meu Ecojegue,
como disse o Glauco!
Entra em trilha , sai de trilha, entra em rio, sai de rio,
quase 1h depois, no meio de um enorme vale , chegamos ao único local, dos
2530km² de serra que compõem aquele vale, aonde se é possível conseguir sinal
para celular. Mas quem pensa que chegando lá, o sinal é tranquilo, imagine a
seguinte cena: 3 pedras posicionada como se fossem banco e uma árvore distante
cerca de 20m dessas pedras. Ali e somente ali, em ALGUNS PONTOS desse trajeto
era possível conseguir sinal. Mas também não era assim, de imediato.... tinha
que esperar. Segundo ele, aquele dia ainda estava mais difícil pois o céu
estava nublado.
Mas eu não desisti!!! Como sempre na minha vida costumo
estar “A ESPERA DE UM MILAGRE”, UMA VEZ QUE ACREDITO NA Lei da Atração e no
poder da intenção; eu não podia admitir sair dali sem uma solução.
Enquanto seu João tentava conseguir sinal , eu comecei a
meditar a rezar, a tentar me conectar com uma força maior para resolver aquela
situação.
De repente, quando eu levanto a cabeça, vem chegando um
homem, de cerca de 30 anos, que ali estava também com o mesmo intuito, ou seja,
queria telefonar.
Logo que chegou, ele conseguiu sinal. Conversou com um , com
outro. Seu João conseguiu falar com o cara do “carro” , que disse que só
conseguiria chegar no dia seguinte às 12:00h!
Caramba , esperar até às 12:00H DO DIA SEGUINTE?! Já era uma luz mas eu queria algo melhor!
O LEI DA ATRAÇÃO
Vou continuar tentando. Aí o Neno, o nosso companheiro no “telefonódromo” resolve emprestar o
celular dele para eu tentar falar com os meus companheiros da equipe de apoio.
Sem sucesso. Até para o Rio ligamos para tentar saber por que a gravação telefônica dizia que o número era
inexistente e nada!
Até que ele me falou que ele estava conseguindo falar com
facilidade pois estava falando com o irmão que estava em Cavalcante, que era
bem mais perto dali . Afinal , os números que eu estava ligando eram de
Brasília ou do Rio.
Quando ele falou que o irmão estava em Cavalcante, uma luz
se acendeu na minha mente!!! É agora! Tudo vai se resolver!
Respirei fundo e perguntei: Você pode ligar de novo pro seu
irmão que está em Cavalcante e pedir a ele para ir lá no local onde estão meus
amigos e dar um recado a eles?
Ele na maior boa vontade do mundo:
- Posso mas vc sabe
dizer o local certinho onde eles estão?
- Eu: Não sei não! Mas garanto que ele não vai ter
dificuldade de saber pois deve ser perto de uma praça, com certeza vai ter um
monte de gente, de carro, da bicicleta, um movimento danado. Em cidade pequena,
todo mundo deve estar sabendo.
Neno: - Ok Vamos tentar.
Ligou e o irmão atendeu imediatamente, imediatamente
identificou o local de que falávamos, imediatamente se propôs a pegar a moto do
outro irmão que mora em Cavalcante e FOI LÁ!!!!
Não deu 5 minutos e nós ligamos de novo e ele JÁ ESTAVA LÁ! Não
foi como esse pessoal de cidade grande que diz que vai e não vai; ou que diz
que vai agora e só vai daqui a horas....
O cara fez tudo IMEDIATAMENTE! Quando ele passou o telefone
dele pro Thiago ( que não era somente da organização do evento, era um dos
diretores da prova!) e o Thiago conversou comigo, que minha equipe de apoio
estava lá, que era para eu ficar tranquila, que eles não só iriam imediatamente
nos buscar como o irmão do Neno, o dono do telefone, se propôs a IR JUNTO!!!!
MEU DEUS!!! CONFESSO QUE FIQUEI EMOCIONADA!!!!
COMO PODE TANTA GENTE AINDA NÃO ACREDITAR NO PODER DA FÉ, DA
INTENÇÃO, DA ATRAÇÃO??? Desculpem mas
não entendo...
Seu João já estava um pouco preocupado pois começava a
escurecer, então finalizamos a ligação com o Neno explicando pro irmão dele
onde estávamos e pronto!
A minha vontade era de pedir para ele se levantar do banquinho
de pedra e dar um abraço nele mas achei que não era conveniente e me contentei em ficar
PULANDO na frente dele agradecendo , dizendo que ele não tinha ideia de como eu
estava feliz! Que desejava muitas bênçãos na vida dele dali em diante!
Mesmo com seu jeito pacato e tímido, percebi a satisfação em
seu semblante! Acho que ficamos equilibrados em nossas emoções naquele momento.
Agora tínhamos , eu e seu João, mais uma questão a resolver:
a noite chegou e agora? Não levamos lanterna!!! Como fazer para nos deslocarmos
num caminho de quase 1h, cheio de trilhas para tudo que é lado, tendo que
passar por 3 rios, sem enxergar absolutamente nada??
Sem exagero, o breu era total! E agora? Muito simples! Quem
solucionou esse dificílimo dilema? O BURRO!!!
Êta animal com memória e sendo de direção! O bicho nos levou de volta pra casa tranquilamente, sem errar
um milímetro, no mesmo tempo em que fizemos o trajeto na ida!
E lá estava eu, naquele breu total! Radiante por estar
vivendo tudo aquilo. Por ter conseguido falar com o pessoal em Cavalcante e por
constatar que tudo que eu acredito estava ali, confirmado na minha frente! Sem espaço
para dúvidas! Ainda por cima, sendo
guiada por um burro (ou jegue) totalmente às escuras e completamente
confiante!!!
EU AMO A NATUREZA!!!!! Como Deus é perfeito! Como o Universo
é esplendoroso!
Chegamos a casa do seu João e eu fui imediatamente
contar tudo que tinha acontecido, pros
meus companheiros de equipe , que já haviam saído da estrada, obviamente e
tinham sido acolhidos pela esposa do seu João, que logo nos ofereceu um
delicioso jantar. Com muito arroz e feijão ..rs mas também tinha uma carninha e
um peixinho para quem não é vegetariano como eu!
Nesse momento, começou uma chuva muito forte! Ficamos
receosos de nossa equipe de apoio não ir nos buscar devido a esse fato mas
seguimos esperando.
Resolvi dar uma descansada e pedi licença para abrir meu
cobertor de emergência no chão da sala mas a esposa do seu João imediatamente
disponibilizou duas redes para dormirmos. Eu me instalei em uma e
o Glauco na outra.
Que sensação maravilhosa deitar naquela rede depois daquele
jantar simples mas recheado de boa conversa, temperado com a alegria de todos
nós por termos conseguido o que parecia impossível. Uma paz tão grande me invadiu
e eu dormi como há dias eu não dormia...acordei no meio da noite, com uma certa
expectativa se o pessoal viria ou não mas logo percebi que a chuva realmente
atrapalhara nossos planos. De qualquer forma, estava tão bom ali... tudo bem!
Amanhã resolvemos!
Acordamos cedo com seu João nos oferecendo café fresquinho
com biscoitos! Quanto cuidado! Quanto carinho vindos de uma família inteira que
tínhamos acabado de conhecer! (ao chegar
na casa do seu João descobri que Neno é irmão de D. Joana , ou seja, os outros
irmãos que estavam em Cavalcante – o que emprestou o telefone e foi até o local
, bem como o que emprestou a moto, também são irmãos dela e cunhados do seu
João). Ô Benção!
Como é boa essa sensação!
Enfim, o Alan nosso amigo, nosso companheiro e nosso apoio
LITERALMENTE! Chegou e nos explicou que realmente a chuva os impedira de ir na
noite anterior, o que compreendemos prontamente! O irmão do Neno realmente foi
com ele não só para guiá-lo mas também por que
precisava pegar algumas coisas na casa do Seu João e levar de volta
para Cavalcante. Ele nos ajudou e agora, estávamos ajudando ele. Ficamos muito
felizes em constatar isso! Deixei pra ele também meu recado revolucionário! rs
Antes de sairmos com o carro, avistamos uma outra equipe que
havia se perdido e estava com pouca água, comida e como as nossas comidas ainda
estavam no carro, abrimos um isopor lotado de bebida gelada, inclusive com água
de coco e oferecemos para que levassem o que quisessem. Foi muito legal ver a
alegria no rosto deles também! Não completamos a prova mas depois de termos recebido tanta
ajuda, é muito gratificante ajudar e fizemos isso de coração e torcendo para
que eles fossem mais bem sucedidos do que nós nessa jornada que para nós tinha
terminado!
Chegamos em Cavalcante, tomei uma delicioso banho no
banheiro de uma creperia , comi um crepe e já estava renovada! Me sentindo com
uma energia, uma vitalidade!!! Saí de lá e fui direto pra cachoeira com a nossa
equipe de apoio. Estou na paz total! Realizada apesar de não ter completado a
prova!
O GRANDE APRENDIZADO
O que ficou muito claro na minha mente, no meu coração e na
minha alma, foi que nós tínhamos duas opções: continuar a prova e terminar
correndo risco de sérios problemas ( o Glauco poderia ter sua tendinite no tornozelo
muito agravada com mais de 30 km de trekking pesado pela frente , eu poderia
ter meu pé também detonado por tantas bolhas e inchaço), corríamos o risco de
nos desentendermos devido o stress que a situação poderia causar; ou poderíamos
desistir, como fizemos.
É claro que como atletas que somos, sempre achamos que
podemos mais. Sempre temos a tendência a completar a qualquer custo!! Inclusive
existe e célebre frase: “ A dor é temporária, desistir é para sempre”! que
quase todo atleta usa como lema.
Mas de uns anos para cá, venho questionando isso. A minha
história de vida e de atleta , inclusive, já me mostra que eu sou capaz de
seguir a qualquer custo, de completar mesmo apesar das difíceis circunstâncias.
Não tenho mais que provar isso para mim mesma , muito menos para os outros.
Não estou querendo
dizer aqui que não serei mais competitiva e desistirei no primeiro
obstáculo. Quero dizer que se a situação estiver a um ponto que não estiver
fazendo meu coração e minha alma vibrarem, não insistirei por puro ego ou
vaidade!
Percebi com muita clareza, que quando estamos sendo levados pelo ego, pela vaidade e por
outros sentimentos não tão construtivos, perdemos energia, ficamos esgotados,
abalados emocionalmente. O corpo só sinaliza!
De modo contrário, quando estamos sendo guiados por
sentimentos de cooperação, quando estamos compartilhando sinceramente, quando
estamos cuidando e nos permitindo ser cuidados, uma enorme onda de energia nos
invade! Uma vitalidade inimaginável!
Nós quatro tivemos a dádiva de vivenciar tudo isso. Como o
Glauco comentou ainda deitado na rede, ao acordar de manhã, nós fomos levados
para A CABANA e temos muito aprendizado para tirar de tudo isso, inclusive a
percepção de que existe algo maior , além de nós atuando e nos guiando nesse
mundo.
Não sei se meus outros companheiros de equipe conseguem
enxergar dessa forma. O que sei, é que ao chegar em Niterói, na minha casa,
tomar banho no meu chuveiro e finalmente deitar na minha cama para dormir às
20:00h de domingo 20/05, lembrei que a sensação não era tão diferente da paz
que senti naquela rede na casa do seu João. Percebi que o bem-estar está muito
mais relacionado com os sentimentos e com a energia pura que envolve os
ambientes, do que com o ambiente em si.
AGRADECIMENTO
Naquele momento , agradeci a Deus, a seu João , a d. Joana e
a sua família por terem me ensinado essas valiosas lições!
Após esse agradecimento e após sentir a onda de vibrações
positivas que me invadiu naquele momento, dormi o mais leve porém profundo e
restaurador sono que já dormi em toda minha vida!
No dia seguinte as 7:00h acordei sentindo que algo tinha
mudado dentro de mim. Ao atravessar o Vão de Almas, ao atravessar aquele rio
que me levou a casa de Natalino e deu início a tudo que veio depois, minha alma
e meu coração ficaram mais leves.
Espero que essa sensação só cresça cada vez mais dentro de
mim e que eu possa e consiga transmiti-la a todos que convivem comigo.
Namastê ( o meu Deus interno saúda o seu Deus interno)
A Título de Curiosidade:
O Vão de almas é Um território
de 2..530 km2 de serra e rios, a 400 km ao norte da capital brasileira.
Depoimento kalunga:
“O Estado nos deve, durante
muitos anos nada recebemos. Não queremos ir para a cidade, passar fome, lutamos
por uma estrada e educação", lamenta Zé, que foi eleito representante da
comunidade no município, para aonde vai uma vez por mês”.
“Os habitantes do Vão de
Almas são a parcela menos favorecida economicamente da Comunidade Kalunga.
Soma-se à falta de recursos a dificuldade de acesso para se chegar até eles,
que pode ser contornando por doze quilômetros, a pé, o Rio Paranã; ou
caminhando uns sete quilômetros para depois atravessá-lo. No local da travessia
do rio há canoas feitas por pessoas da comunidade que cobram cinqüenta reais
pelo trajeto, facilitando a passagem de um lado para outro. Outra forma
de acesso aos kalungas “de Almas” é através de uma íngreme estrada feita por
volta de dois anos, onde só passa veículo traçado.” ( Economia kalunga no Vão de Almas, Leda Arminda Machado Barros)
Um vídeo bem legal SOBRE
o povo Kalunga do Vão de Almas